O deputado foi julgado pelo STF junto com outros nove réus, dentre eles o delator do esquema, Roberto Jefferson
Do Portal Terra
Condenado pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal
(STF) no julgamento do mensalão, o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP)
disse não acreditar que será preso. "Não (considero que serei preso), de
jeito nenhum, vou ganhar isso aí". Costa Neto disse também que não
deixará o cargo de deputado federal por confiar no Judiciário.
"Eu continuo deputado e mantenho meu mandato porque confio na
Justiça brasileira", disse. Costa Neto já foi condenado pela maioria dos
ministros, mas adiantou que entrará com recurso junto à Corte
Interamericana, vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA),
para pedir novo julgamento. "Enquanto não estiver em trânsito e julgado
(o processo), continuo no Congresso Nacional".
"Apenas fui condenado pelo crime errado, como, certamente, ficará
provado com a garantia do direito ao duplo grau de jurisdição", disse.
Na segunda, o Supremo condenou Valdemar Costa Neto por corrupção
passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
"Refiro-me, especificamente, à garantia de qualquer cidadão, em
matéria penal, ter direito ao reexame de eventual condenação. Tal
dispositivo, previsto pelas Cortes Internacionais, é uma garantia que
resguarda os direitos individuais e o princípio da ampla defesa no mundo
civilizado", disse.
Segundo o advogado Marcelo Bessa, seu cliente deverá entrar com uma
petição junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos para que o STF
faça novo julgamento dos crimes cometidos por seu cliente.
O deputado foi julgado junto com outros nove réus, dentre eles o
delator do esquema, Roberto Jefferson. De acordo com a maioria dos
magistrados, Costa Neto se valeu de um esquema de lavagem de dinheiro
por meio da empresa Guaranhuns para receber recursos do "valerioduto".
O então presidente do Partido Liberal (hoje Partido da República)
também se valeu, conforme denúncia do Ministério Público, do assessor da
legenda Jacinto Lamas - tesoureiro informal do partido - para receber
outra parte do dinheiro do esquema. Ao todo, o grupo de Valdemar recebeu
R$ 8,8 milhões.
Por corrupção passiva, Valdemar pode pegar pena de dois a 12 anos;
por lavagem de dinheiro, de três a dez; e por formação de quadrilha, de
um a três, além das multas. As penas mínimas de cada crime somadas
chegam a seis anos. Se o STF definir uma pena acima de oito anos, apenas
dois acima do que já se espera pela votação dos ministros, o réu terá
de cumpri-la em regime fechado.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de
envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado
federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão.
Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos
para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da
Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo
de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos
colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou
como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado
e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio
Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados
por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda
por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da
República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com
isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três
anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP,
morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do
suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus
sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das
funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles
respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção
ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José
Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados
por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O
publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a
ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro
da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por
peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a
processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A
denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre
eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações
finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes.
Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do
irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio
Lamas, ambos por falta de provas.
A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A
primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o
ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a
corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o
Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o
defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento
de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa
Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.
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