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domingo, 10 de junho de 2012

4G muda cenário da internet móvel, mas para poucos

Anatel realiza na terça-feira o leilão que vai definir as operadoras da próxima geração de banda larga para celular; preço dos aparelhos deve ser entrave para consumidor


O brasileiro está mais perto de ter uma banda larga para celular que funcione sem as limitações do sistema atual. O governo realiza na terça-feira o leilão que vai definir as operadoras da tecnologia 4G, sistema de internet móvel até cem vezes mais rápido do que o 3G. Enquanto a velocidade da rede atual varia de 1 a 2 megabytes por segundo (Mbps), a próxima geração terá capacidade para operar com até 100 Mbps – a previsão, porém, é de que operadoras comercializem serviços de 5 a 10 Mbps.
O cronograma de implementação da nova rede foi atrelado aos grandes eventos esportivos do país nos próximos anos. Até maio do ano que vem, as seis cidades que recebem a Copa das Confederações deverão contar com o serviço. Em Curitiba, a tecnologia chega até o fim de 2013, data-limite para a oferta em todas as sedes da Copa do Mundo de 2014 (confira o cronograma completo no gráfico).
Dilma estuda desonerar smartphones
De acordo com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a presiden­­­te Dilma Rousseff e o Ministério da Fazenda estão avaliando a possibilidade de cortar impostos de aparelhos feitos aqui.

Leilão privilegia metas e abrangência
Para tentar contornar um problema enfrentado pelos consumidores com a rede 3G, em que a demanda grande de usuários superou os investimentos das operadoras em infraestrutura, causando instabilidade na rede, o governo privilegiou um modelo de leilão no 4G que estabelece metas, prazos e abrangência na oferta dos serviços para os vencedores. Com isso, o valor arrecadado na licitação deve ser mais baixo do que poderia ser caso a venda das frequências ocorresse sem nenhuma obrigação, de acordo com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Se todos os lotes forem vendidos pelo preço mínimo, a arrecadação será de R$ 3,8 bilhões. O valor não leva em conta o provável ágio nas licenças nacionais, a serem disputadas pelas quatro principais operadoras do país – TIM, Claro, Vivo e Oi. Por outro lado, as licenças regionais, onde devem se concentrar as ofertas de Sky e Sunrise, podem não ser totalmente vendidas. Nesse caso, o governo deve fazer um novo leilão com preços mais baixos. O dinheiro arrecadado no leilão vai diretamente para os cofres do Tesouro Nacional. Segundo Bernardo, esse foi outro motivo pela opção do modelo utilizado no leilão, com as obrigações para os ganhadores. “Em vez de só arrecadar estamos garantindo a construção de infraestrutura”, afirma.
Arrecadação
R$ 3,8 bilhões é o que o governo vai arrecadar caso consiga o preço mínimo estabelecido para todos os lotes do leilão de terça-feira.
O governo “amarrou” o leilão do 4G, que usará a faixa de frequência de 2,5 GHz, à cobertura de internet e telefonia na zona rural, da faixa de 450 MHz. Foi a maneira encontrada para garantir o cumprimento das metas do Plano Nacional de Banda Larga – atingir 4.278 cidades com internet até 2014. Caso não haja interessados em operar a banda larga rural, os vencedores da faixa de 2,5 GHz terão de obrigatoriamente assumir o serviço.
A vinculação entre as duas frequências pode ser a responsável pelo baixo número de operadoras interessadas no leilão – a Anatel previa a entrada de grupos que ainda não atuam no mercado brasileiro, mas apenas um enviou proposta, a Sunrise, controlada pelo fundo de investimento do magnata George Soros. TIM, Claro, Oi, Vivo e Sky são os outros concorrentes.
Preço dos celulares
Para analistas, a chegada do 4G terá alcance limitado no início. O preço dos aparelhos equipados com a tecnologia é apontado como um dos grandes entraves para a popularização do serviço. “Será pouco acessível ao usuário por causa do preço dos dispositivos. Os aparelhos com 4G têm uma escala mundial ainda baixa e preços altos”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações. Um levantamento recente da associação americana 4G Americas mostrou que menos de 1% das pessoas que têm celulares em todo o mundo utilizam a rede 4G, cerca de 7,4 milhões de usuários, a maior parte nos EUA e na Europa.
Para tentar reduzir o preço dos equipamentos, o governo estuda incluir os smartphones na Lei do Bem, como foi feito com os tablets no ano passado. A legislação desonera computadores fabricados no país. Um estudo está sendo conduzido pelo Ministério da Fazenda para avaliar a opção, de acordo com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
Qualidade
A chegada do 4G deve significar uma melhora na qualidade do tráfego de dados no país, alvo constante de reclamação dos usuários de telefonia. “Em muitos casos, apenas 1% dos usuários ocupam 30% da capacidade de tráfego da rede. São os heavy-users, os consumidores que têm a maior probabilidade de migrar para a nova rede. Isso vai acabar desafogando o 3G”, diz Tude.
O Brasil vem observando um crescimento explosivo do uso de dados por celular. Até o fim de 2011, 17% dos brasileiros acessavam a rede por meio de celulares. No ano anterior, eram apenas 5% – um crescimento de 340%, de acordo com dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil. Os 17% mostram que o espaço para crescimento da rede 3G ainda é grande, e o foco das operadoras deve ser em expandir esse serviço, de acordo com o analista de telecomunicações da Frost & Sullivan, Renato Pasquini. “As empresas de telefonia ainda têm muito a evoluir com a rede 3G. A Claro, por exemplo, que conta com a rede 3G+, até três vezes mais rápida, possui o serviço pronto para mais de 700 cidades. Com uma rede similar a atual, consegue oferecer muito mais velocidade. É natural que vá explorar isso”, diz.
Compatibilidade
A frequência a ser usada pelo 4G no Brasil, de 2,5 GHz, é similar ao padrão europeu e chinês, mas diferente do americano. Nos EUA, a faixa utilizada vai de 700 MHz a 2,1 GHz. Por causa disso, aparelhos como o novo iPad não funcionarão aqui. O governo já estuda a viabilidade de um novo leilão da faixa de fre­­quência de 700 MHz.

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