Empresas deverão manter banco de dados que permita rastreamento.
Objetivo é evitar desvio de material e reduzir ataques a caixas eletrônicos.
Criminosos incendeiam agência ao tentar usar
explosivos para assalto no Ceará (Foto: Jouse
Meneses/ Arquivo Pessoal)
Para conter o uso de explosivos em ataques a caixas-eletrônicos, o
Exército resolveu endurecer as regras no controle de segurança de
empresas que fabricam, vendem ou usam o material, buscando evitar
furtos, roubos e desvios. As novas regras foram publicadas no Diário
Oficial da União nesta semana.explosivos para assalto no Ceará (Foto: Jouse
Meneses/ Arquivo Pessoal)
Só em 2010, mais de uma tonelada de explosivos dos mais variados tipos foi parar nas mãos de criminosos, segundo levantamento da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados, órgão subordinado ao Comando de Logística do Exército. O número é 170% superior ao ano anterior. São esses explosivos, segundo delegados da Polícia Civil, que estão sendo usados em assaltos a agências bancárias em todo o país.
A partir desta semana, as empresas que manuseiam ou exercem atividades
com explosivos deverão, obrigatoriamente, apresentar um plano de
segurança que terá de descrever em detalhes as instalações internas,
áreas de operações e estoque, nomes e identificações de agentes
envolvidos, além de rotas de transporte e distribuição.
Terão de ser elaborados croquis com a localização das pessoas e cães
responsáveis pela vigilância além de uma detalhada planta, que deverá
apontar a localização de muros e acessos, alarmes, áreas cobertas ou não
por câmeras de monitoramento, e todos os meios de comunicação
disponíveis para envio de sinal de alarme e de imagens sem fio
existentes no local.O Exército também impôs regras para evitar furtos e roubos de material durante o transporte. Para isso, os militares exigirão informações sobre critérios da escolha do motorista e do ajudante, das condições do veículo que levará a carga (que deverá obrigatoriamente ter um sistema de rastreamento com poder de bloqueio de acesso ao compartimento de carga), além dos procedimentos para acesso de pessoas a áreas onde os explosivos estão armazenados (veja detalhes na tabela abaixo).
Como era (*) |
O que tem de novo (**) |
---|---|
Para ter autorização do Exército para produzir, vender ou
transportar explosivos as empresas devem apresentar documentação e
obedecer critérios de segurança para risco de explosões |
Além da documentação, as empresas deverão apresentar também um
plano detalhado de segurança com plantas do terreno e medidas de
prevenção de roubos e furtos |
Terreno deverá ter cerca de isolamento e pavilhões devem ser
isolados por meio de muros. A preocupação maior é com incêndios, para
não atingir abrigo de operários e outras instalações |
É necessário alarme e monitoramento eletrônico por meio de
câmeras. O Exército deve ser informado sobre as formas de envio e
armazenamento destes dados de segurança e de comunicação entre a empresa
e seus vigilantes |
Acesso aos locais com explosivos é controlado por um único portão.
É necessário ter segurança e vigilância 24 horas e brigada de incêndio |
Deverá ser especificado as pessoas com acesso aos locais e a forma de verificação do acesso |
Transporte tem que ser por meio de sólidos tabuleiros e em
caminhões separados de outros materiais. A carga e descarga deve ser
durante o dia e os caminhões não podem estacionar em locais públicos |
A empresa deve apresentar ao Exército os critérios para
contratação de motorista e ajudante que farão o transporte de cargas
explosivas. O caminhão terá que ser monitorado, sendo possível o
rastreamento e o bloqueio do compartimento de carga. A empresa deve
fazer e manter sob sua posse um "rotograma" com mapas, horários e rotas
feitas |
A embalagem tem de conter os dados da empresa e do explosivo, além de informações sobre risco, segurança e fabricação |
A embalagem deve conter uma identificação numérica e a empresa
deve manter um banco de dados das vendas realizadas, possibilitando o
rastreamento em tempo real. O Exército deve ser informado por meio de um
site na internet em 24 horas casos de roubos, furtos, desvios ou
localizações de explosivos. |
Fonte: (*) Decreto nº 3.665, de 20 de novembro de 2000; (**) Portaria nº 3 da Divisão de Produtos Controlados, publicada no Diário Oficial |
Emulsão é o explosivo mais desviado de pedreiras
e mineradoras e usado em ataques a caixas
eletrônicos (Foto: Reprodução/RPC TV)
Multas mais pesadas e mineradoras e usado em ataques a caixas
eletrônicos (Foto: Reprodução/RPC TV)
A portaria número 3, publicada no Diário Oficial de segunda-feira (4), é um adendo ao Decreto 3.665, de 20 de novembro de 2000 (conhecido como R-105), que trata da fiscalização de produtos controlados e foca, principalmente, na segurança com o objetivo de prevenir detonações acidentais.
Para o coronel Wanderley Mascarenhas, especialista em explosivos e ex-comandante do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) de São Paulo, as mudanças não ocorreram antes porque, até então, o Brasil não tinha histórico de atividades criminosas com o uso de explosivos e a legislação em vigor era eficiente para o controle.
“Considero bastante produtivo aumentar a rigidez no controle de acesso ao material. Teremos grandes competições internacionais no país e sempre há o risco de explosivos desviados serem empregados em atentados”, diz. “O banco de dados também permitirá descobrir de forma mais rápida a procedência de explosivos usados. Hoje demora muito, porque as informações estão isoladas e as estatísticas não são difundidas”, pondera ele.
A intenção do Exército é ainda aumentar as multas para quem descumprir as regras no manuseio com explosivos. Segundo o Centro de Comunicação Social do Exército (Cecomsex), a Divisão de Produtos Controlados propôs alterações na legislação que impõe as punições aos infratores, "aumentando os valores com o objetivo de reduzir os ilícitos com explosivos", diz o Exército. A proposta foi encaminhada ao Ministério da Defesa, que informou que o estudo do projeto está em fase final e, ao ser concluído, será enviado à Casa Civil.
Procurada pelo G1, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) informou que a norma será discutida pelas empresas em uma reunião e que, até lá, não tem uma posição oficial sobre o tema.
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