Desembargadora do TRT negou pedido para que a paralisação dos motoristas fosse considerada abusiva
No terceiro dia de greve de motoristas e cobradores, os sindicatos dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Ceará (Sintro) e das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) foram convocados pelo Ministério Público, por meio da Procuradoria Regional do Trabalho (PRT - 7ª Região-CE), para uma reunião, hoje, às 10h30, na sede do órgão.
Durante o dia, o Terminal Siqueira foi bloqueado e ônibus trancaram avenidas FOTO: ALEX COSTA
No encontro, os sindicalistas representantes da classe patronal e laboral vão ser ouvidos pelo procurador Francisco Gérson Marques de Lima sobre as negociações que já realizaram e propostas serão discutidas. O procurador vai se fundamentar para trabalhar no ajuizamento do dissídio coletivo da categoria. Gérson Marques poderá, posteriormente, apresentar uma sugestão de acordo que venha acabar com o impasse.
Abusividade
Além disso, a presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT/CE), desembargadora Roseli Alencar, negou, ontem, em despacho, o pedido feito pelo Sindiônibus para que a greve fosse considerada abusiva. Também de acordo com o documento, a decisão sobre a legalidade ou não da greve deve ser tomada pelo colegiado de desembargadores do TRT/CE.
Com isso, esse processo foi anexado àquele em que será decidido o percentual de reajuste salarial e outras cláusulas econômicas e sociais debatidas na convenção coletiva. A audiência está marcada para a próxima quinta-feira, dia 28 de junho.
O Sindiônibus informou, em nota, que a desembargadora negou somente a antecipação de tutela, deixando "a decisão sobre a legalidade ou não para o colegiado de desembargadores". Por sua vez, o Sintro afirmou só se pronunciar sobre o assunto após reunião da diretoria da entidade.
Prejuízos
O Sindiônibus informou, também ontem, que os prejuízos gerados pela greve dos motoristas e cobradores de ônibus de Fortaleza já somam R$ 2,8 milhões.
Ainda de acordo com o sindicato patronal, as despesas com depredações somam R$ 450 mil e, com a arrecadação, R$ 2,4 milhões.
A paralisação, ontem, na cidade, constou de ações rápidas de abandonos de veículos durante percursos. Nas avenidas de grande fluxo de coletivos, como Bezerra de Menezes, Domingos Olímpio, Duque de Caxias, Tristão Gonçalves, Imperador, da Universidade e nas ruas Meton de Alencar, General Clarindo de Queiroz, Antônio Pompeu e 24 de Maio, os transtornos ficaram por conta do congestionamento devido à obstrução dessas vias por mais de 20 ônibus que tiveram pneus esvaziados.
Bloqueio
Na parte da manhã, o Terminal do Siqueira foi bloqueado pelos grevistas, mas a ação durou pouco mais de uma hora. Na Avenida Osório de Paiva, outros 17 veículos estavam parados pelo mesmo motivo.
Diante disso, a população era obrigada a descer dos coletivos e caminhar para tentar apanhar os poucos transportes alternativos ou seguir a pé.
As empresas da Capital e da região metropolitana resolveram, ontem, tentar escapar da ação dos motoristas e trocadores, que consiste em esvaziar os pneus dos coletivos. Para tanto, modificaram os percursos e locais de concentrações de suas paradas para embarque e desembarque. Os ônibus das linhas Parangaba em direção ao Papicu mudaram trajeto, assim como os de Caucaia que estavam fazendo seu embarque e desembarque próximo ao Marina Park Hotel.
Frota
Segundo dados da Empresa de Transportes Urbanos de Fortaleza (Etufor), ontem, de 7h às 8h, 75,13% da frota rodaram. De 11h às 12h, 79,35% circularam, enquanto de 18h às 19h, 65% estavam nas ruas. A determinação do TRT fixou a frota circulante, nos horários de pico, em 70% e em 50%, no entre pico.
Balanço
2,8 milhões de reais é a quantia alegada pelo Sindiônibus como prejuízo que contabilizam nesses três dias de greve dos motoristas e cobradores da Capital
Transtornos diminuem no terceiro dia de greve
A greve dos motoristas e cobradores de ônibus não trouxe tantos transtornos aos passageiros da cidade ontem. Nos terminais de Fortaleza, o fluxo estava praticamente normal. Apenas em algumas vias do Centro houve engarrafamentos causados pela paralisação dos trabalhadores.
Na Avenida Padre Ibiapina, por exemplo, onde funciona o fim da linha do Circular I e II, grevistas secaram ou furaram pneus de dezenas de ônibus logo no início da manhã. O enfileiramento dos veículos nos dois sentidos da via deixou o trânsito complicado.
Vários passageiros foram "abandonados" no meio do caminho pelos motoristas, que paravam antes de completar o itinerário e precisaram se proteger da chuva, que também atrapalhou a troca dos pneus danificados, serviço feito por mecânicos das empresas de ônibus.
"Estou nessa parada há duas horas. Fiquei no meio do caminho. Os ônibus vêm e param", afirma a chefe de produção Meire Sales, 44, que mora no Centro e trabalha no bairro de Fátima.
No Centro, a opinião que prevalecia entre motoristas e cobradores era a de que a categoria para assim que o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) oferecer reajuste de 10%. Por outro lado, eles temem que o caso siga para o julgamento de dissídio coletivo.
Terminais
Nos terminais, grande parte dos passageiros acordaram mais cedo, pensando que a situação estaria como nos dois primeiros dias de greve. Ficaram aliviados quando viram vários ônibus.
O pintor João Paulo Vasconcelos, 32, mora no bairro Monte Castelo e trabalha no Henrique Jorge. Começa o expediente às 8h, mas, ontem, às 6h, já estava no terminal para não chegar atrasado. Aproveitou para tomar um café e esperar um ônibus mais vago. "Na quinta-feira, tive de pegar uma topique e desci em um local muito longe. Andei mais de meia hora para chegar ao trabalho", lembra.
Funcionários de empresa param 100% das atividades
Motoristas e cobradores de ônibus da empresa Montenegro, no bairro Vila Pery, paralisaram todas as suas atividades na manhã de ontem. A categoria reclama que a empresa está entre as que encerrarão suas operações a partir do dia 1º de julho e que, até o momento, nenhuma posição foi tomada relação à manutenção de seus empregos.
Motoristas e cobradores da Montenegro acamparam em frente à empresa, que encerra suas operações a partir do dia 1º de julho Foto: Alex Costa
De acordo com o diretor do Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Rodoviários no Estado do Ceará (Sintro), Geraldo Lucena, os funcionários demonstram muita preocupação com a situação e querem saber que empresa irá assumir seus cargos.
A Prefeitura anunciou, no fim do ano passado, que a Capital teria, pela primeira vez, o sistema de transporte coletivo de ônibus licitado. A justificativa é que a concessão gera a capacidade de permitir, de forma segura e contínua, a realização dos investimentos necessários. Algumas empresas que operam na cidade não participaram da licitação e, por isso, devem encerrar suas atividades até o final do mês.
Procurado pelo Diário do Nordeste, a direção da empresa Montenegro não quis se pronunciar sobre o assunto.
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