Para consolidar pacificação da área, Bope ocupará Vila Cruzeiro, pondo fim à atuação de militares no complexo
Ana Cláudia Costa
Nas
primeiras horas da manhã da próxima quinta-feira, dia 28, moradores da
Vila Cruzeiro e de duas favelas vizinhas, na Penha, vão assistir a mais
uma etapa do processo de pacificação do Complexo do Alemão, que já foi
uma das regiões mais perigosas do estado, devido ao domínio territorial
do tráfico armado. Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope)
assumirão o controle das comunidades em substituição a militares do
Exército. A participação das Forças Armadas na pacificação da região se
encerrará justamente onde começou há 19 meses (em novembro de 2010),
quando tanques da Marinha, militares e policiais entraram na Vila
Cruzeiro para pôr fim a uma onda de ataques incendiários na cidade. A
ofensiva de guerra resultou numa imagem que marcou a retomada daquele
território: a fuga de cerca de 200 traficantes pela Serra da
Misericórdia em direção à Favela da Grota.
A
troca de comando será formalmente concluída no dia 30 de junho, de
acordo com um convênio firmado entre o Ministério da Defesa e o governo
do estado. Após a invasão das favelas do complexo, o Exército ficou
responsável pelo início do processo de pacificação. As comunidades
ficaram ocupadas por, em média, 1.700 militares nesse período. A cada
dois meses, uma unidade do Exército assumia o trabalho. Desde abril, já
foram inauguradas quatro Unidade de Polícia Pacificadora (UPPs) no
Alemão, todas em comunidades de Ramos e Inhaúma. No último dia 31, o
Bope ocupou os morros da Fé, do Sereno, da Caixa D"Água e da Chatuba,
que devem ganhar duas UPPs até a próxima quarta-feira. Por último,
ficaram as favelas Vila Cruzeiro, Merendiba e Vila Proletária, que
também devem receber duas unidades, 20 dias após serem ocupadas pelo
Bope.
Serão,
assim, oito UPPs no Complexo do Alemão, com dois mil PMs, e 25 em toda a
cidade. Depois das comunidades da Penha, a próxima favela a receber uma
UPP deve ser a Rocinha, ocupada pela PM desde novembro do ano passado.
Outras favelas também serão alvo de operações
A
passagem de comando do Exército para a PM será marcada por uma
solenidade a ser realizada, a princípio, em 7 de julho. O evento será na
base da Força de Pacificação, na antiga fábrica da Coca-Cola, na
Estrada do Itararé, em Ramos. O evento contará com a presença do chefe
do Comando Militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, e de
autoridades do estado. No local, com a saída do Exército, será instalado
provisoriamente o Comando de Polícia Pacificadora (CPP). Lá também
ficará o comando único das oito UPPs do Alemão.
Na
próxima quinta-feira, o Bope repetirá o procedimento padrão que precede
a instalação de qualquer UPP: os policiais vasculharão becos e vielas
das favelas. De acordo com fontes da PM, o histórico de violência na
Vila Cruzeiro, que por anos foi o quartel-general do tráfico de drogas
na região, vai fazer com que o batalhão empregue um efetivo maior desta
vez. Há estimativas de que, no mínimo, 300 homens do Bope, do Batalhão
de Ações com Cães, do Batalhão de Choque e do Grupamento Aeromarítimo
sejam escalados. Helicópteros sobrevoarão as comunidades enquanto
blindados levarão os PMs para o interior delas. Como em outras
ocupações, um ônibus do Bope, que ficará baseado num acesso às favelas,
será usado como posto de comando.
A
Serra da Misericórdia também será ocupada. Como já aconteceu em outros
processos de pacificação, a PM vai desencadear ações simultâneas em
favelas cujos traficantes pertencem à mesma facção criminosa da Vila
Cruzeiro. A intenção é prender bandidos que fugirem da Penha em busca de
abrigo em comunidades controladas por cúmplices.
Para
o comandante da Força de Pacificação, general Carlos Maurício Barroso
Sarmento, a experiência do Exército na região foi única. Ele disse que,
além da sensação do dever cumprido, é uma satisfação ver os cidadãos
livres dos traficantes que, antes, circulavam armados de fuzis pela
área.
-
É um orgulho ter participado desta etapa de pacificação no Rio de
Janeiro. Hoje o morador de bem tem tranquilidade de ir e vir. Estamos
orgulhosos de estar neste processo - comentou.
No
dia 25 de novembro de 2010, seis blindados da Marinha invadiram a Vila
Cruzeiro. Apesar da operação bem-sucedida, traficantes mantiveram os
ataques pela cidade e, naquele dia, incendiaram 41 veículos. A ação
militar recebeu amplo apoio popular, e a imagem da fuga dos bandidos
repercutiu mundo afora. A TV Globo transmitiu a ocupação ao vivo por
seis horas. Na ação, houve intenso tiroteio entre policiais e
traficantes. Três dias depois, as forças de segurança subiram o outro
lado do Complexo do Alemão. A operação foi comunicada com antecedência, e
as autoridades deram um ultimato para que os bandidos se entregassem:
alguns se renderam, mas muitos escaparam até mesmo pela rede de esgoto.
Centenas de armas foram apreendidas. O terror que a quadrilha do Alemão
tinha imposto à cidade chegava ao fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário