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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Na CPI, ex-chefe de gabinete de Agnelo se exime de culpa


Cláudio Monteiro diz que, apesar dos indícios de pagamento de propina, não atendeu a interesses da quadrilha e não responde por conversas de terceiros

Gabriel Castro e Laryssa Borges
Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, fala à CPI do Cachoeira
Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, fala à CPI do Cachoeira (Reprodução/TV Senado)
Ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal, Cláudio Monteiro afirmou nesta quinta à CPI do Cachoeira que não atendeu qualquer interesse da máfia de Carlinhos Cachoeira enquanto ocupou o cargo. Ele também minimizou as referências feitas a ele por integrantes do bando do contraventor nas gravações interceptadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça. "Falas de terceiros não são provas, muito menos indícios. Não servem sequer para abrir um inquérito", afirmou o depoente, que começou a falar por volta das 11h.
Monteiro é suspeito de receber propina para facilitar a infiltração da quadrilha de Cachoeira no governo do Distrito Federal. Os aliados do bicheiro tinham interesse na nomeação dos responsáveis pelo contrato de coleta de lixo, que beneficiava a construtora Delta. "Se você tomou uma medida, essa medida resultou em alguma ação concreta ou produziu algum efeito. Onde está o efeito?", defendeu-se Monteiro. "Ninguém desse grupo fez parte dos quadros do Distrito Federal".
O ex-chefe de gabinete negou todos os fatos apontados pelos áudios da Polícia Federal, que sugerem – além do pagamento de propina – que a campanha dele a deputado distrital foi alimentada com recursos de Cachoeira. "As pessoas às vezes se aproveitam, na campanha eleitoral, para estabelecer relações sem o seu conhecimento", disse. Caso o depoimento de Monteiro seja verdadeiro, os integrantes do grupo de Cachoeira sofrem de esquizofrenia severa, tratando todo o tempo de reuniões imaginárias, pagamentos inexistentes e personagens ilusórios.
Independentemente da veracidade do depoimento de Cláudio Monteiro à CPI, elogios do oposicionista Carlos Sampaio (PSDB-SP) levaram o ex-chefe de gabinete a enxugar algumas lágrimas represadas nos olhos. Sampaio, que nesta quarta-feira chegou a bater boca com o radialista Luiz Carlos Bordoni, delator do governador tucano Marconi Perillo, de Goiás, hoje rendeu homenagens ao depoente, que chorou. Fez apenas elogios e disse não ter qualquer pergunta a fazer ao aliado de Agnelo Queiroz. "Hoje eu diria que vossa senhoria sai daqui com a cabeça erguida. A postura de vossa senhoria é a que se espera de alguém que tem caráter".
Mesada - As conversas interceptadas pela Polícia Federal sugerem que Monteiro de fato não atendeu os interesses da quadrilha como os comparsas de Cachoeira pretendiam. Contudo, há indícios de que, até que o desacerto ocorresse, o então chefe de gabinete de Agnelo recebeu propina.
O araponga Idalberto "Dadá" Matias de Araújo aparece em um diálogo afirmando que iria providenciar um "presente" de 20 000 reais e uma mesada de 5 000 reais para Monteiro. A conversa ocorreu em janeiro de 2011. Quatro meses depois, Dadá é informado pelo comparsa Marcello de Oliveira de que o pagamento a Monteiro deveria ser interrompido: a quadrilha pretendia, a partir de então, dar dinheiro para o secretário de Saúde, Rafael Barbosa, figura próxima de Agnelo.
O ex-assessor de Agnelo também negou ter recebido da quadrilha um radiocomunicador, como sugerem as gravações da PF. E, embora afirme não ter recebido dinheiro da Delta em sua campanha eleitoral, teve um arroubo de sinceridade: "Numa campanha política só não vale perder", disse. "Não recebi doação aa delta, mas se tivesse, teria aceito. Não é porque agora a empresa caiu em desgraça que vou dizer que não. Se algum dia voltar a ser candidato e vierem me oferecer, aceito".
A mesma lógica foi aplicada quando questionado se recebeu doações de campanha de Carlinhos Cachoeira. "Se ele tivesse doado recursos, sem demagogia eu teria aceito. Porque só hoje, depois de três anos de investigação, se sabe que essas pessoas transitam por dois mundos", opinou. Para ele, não haveria problema em receber doações da Vitaplan, empresa de medicamentos de Cachoeira, na campanha à deputado distrital disputada em 2010. "No mundo da legalidade, nenhum candidato afasta um laboratório (como a Vitapan), ninguém dá as costas para uma empreiteira para doações", disse.
Claúdio Monteiro também entregou à CPI um documento autorizando a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dele e de seus filhos.

A CPI deveria ouvir nesta quinta-feira três figuras ligadas ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Todos obtiveram na Justiça habeas corpus que lhes garantiu o direito de ficar em silêncio na CPI. Monteiro, entretanto, resolveu falar. 

Os outros dois convocados são João Carlos "Zunga" Feitosa, ex-subsecretário de Esporte do governo, e o próprio Marcello de Oliveira, conhecido como Marcellão, ex-assessor da Casa Militar do Distrito Federal.  As gravações da Polícia Federal mostram que Marcellão foi o responsável pela aproximação inicial da quadrilha com o governo. As conversas sugerem ainda o pagamento de propina a Zunga.

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