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domingo, 12 de julho de 2009

As missões de Harry Potter

No novo filme, ele tem de lutar contra o Lorde das Trevas. Já no seu rentável mundo dos negócios, precisa manter o sucesso de mais duas aventuras antes da despedida.Prestes a completar 20 anos, o ator inglês Daniel Radcliffe é hoje um homem de grande responsabilidade. Em "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", sexto filme da franquia mais bemsucedida do cinema, que estreia no Brasil na quarta-feira 15, o seu personagem despede-se do carinhoso título de "menino bruxo" e encara o início da maturidade ao receber do professor Alvo Dumbledore, diretor da escola de magia de Hogwarts, a missão de combater o mal absoluto representado por Lord Voldermort. A legião de fãs da saga criada pela escritora inglesa J.K. Rowling sabe que essa não é uma tarefa das mais fáceis. Na vida real, a missão de Radcliffe, que aniversaria no dia 23 deste mês, não é menos desafiadora. Jovem artista com o maior rendimento no mundo (faturou no ano passado cerca de US$ 25 milhões), ele aumentou os dígitos de sua conta bancária ao assinar um contrato de US$ 50 milhões para estrelar o episódio final da história, baseado no sétimo livro, "Harry Potter e as Relíquias da Morte" - que já está sendo filmado para suceder o filme atual. Na tentativa de lucrar o máximo com essa mina de ouro, a Warner Bros. Pictures, detentora dos direitos de adaptação dos romances, dividiu os momentos finais da série em duas produções. E reside aqui a outra grande missão de Radcliffe: manter por mais dois anos a sobrevida do herói da história no momento em que a sua primeira geração de fãs já nem sonha mais em se matricular em escolas de bruxaria - eles já cursam os primeiros anos de universidade.
Se na trama atual o rival de Harry Potter é um bruxo do mal, no mundo dos negócios ele vem ganhando um novo adversário que não lança mão de poções ou palavras mágicas, mas usa os dentes. Trata-se do vampiro Edward Cullen, o jovem da série iniciada com outro livro avassalador entre os adolescentes. Chama-se "Crepúsculo" e foi escrito pela americana Stephenie Meyer. Maior fenômeno editorial do ano passado, os quatro livros centrados nesse vampiro já venderam 45 milhões de exemplares, ocupam os primeiros postos dos mais vendidos e deu origem a um sucesso incontestável, o filme homônimo cuja bilheteria mundial ficou em torno de US$ 352 milhões. Os fãs de Harry Potter dão de ombros, claro. Argumentam que em 12 anos os sete livros de J.K. Rowling venderam dez vezes mais: 400 milhões de exemplares. As cinco adaptações para o cinema totalizam rendas superiores a US$ 4,4 bilhões - apesar de bastante expressivo, o faturamento de "Crepúsculo" não chega nem à metade da aventura de Harry Potter que menos deu lucro. Essa disparidade não esconde o fato de que uma mudança de gosto já se encontra em curso. E a melhor prova disso é que "Os Contos de Beedle, o Bardo", a mais recente obra de J.K. Rowling lançada no ano passado, não desbancou os romances de Stephenie Meyer.A tentativa de fazer frente a essa ameaça e não perder os fãs na idade do primeiro beijo é visível em "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", que flagra os alunos de Hogwarts numa ciranda amorosa que em alguns momentos lembra até outra escola muito famosa - aquela de "High School Musical". Na faixa dos 16 anos, os rapazes e as moças versados em bruxaria estão com os hormônios em ebulição e descobrem decepcionados que no campo do amor de nada vale a magia. Os desencontros são frequentes. Tais flertes existem nos livros, mas foram reforçados no filme a ponto de o diretor David Yates ter declarado que a trama agora trata de "sexo, poções e rock'n'roll". As estratégias de modernização mais flagrantes, contudo, se dão no campo dos efeitos especiais. Logo de início, uma sequência esbanja recursos de computação gráfica ao mostrar um verdadeiro atentado terrorista praticado pelos chamados Comensais da Morte (a trupe do mal liderada por Lord Voldemort). Na forma de fumaças negras, eles destroem a Ponte do Milênio, um dos novos cartões-postais de Londres, colocando em risco a vida das pessoas normais - que no linguajar dos bruxos são chamadas de "trouxas". Essa sequência consumiu um ano de produção e é digna de qualquer blockbuster de plantão (uma cena parecida acontece em "G.I. Joe - A Origem de Cobra", quando a Torre Eiffel, em Paris, é destruída num ataque).Para se alinhar na onda do 3D, o ataque do mal, com duração de 12 minutos, será exibido no formato tridimensional nos cinemas que dispõem do sistema Imax. É a primeira vez que um filme de ficção utiliza esse recurso no Brasil e isso promete atrair ainda mais público. Nesses anos finais da série tudo vem sendo muito bem calculado - e, claro, visando mais recordes. A primeira mudança no marketing aconteceu já no ano passado, com o filme pronto. Enquanto os fãs faziam a contagem regressiva, veio o banho de água fria: decidiu-se que a nova aventura não seria lançada em novembro, mas agora, no mês de julho, que coincide com a temporada de verão nos EUA e na Europa. A explicação da Warner foi que o estúdio não tinha um grande filme para as férias de meio de ano em razão da greve dos roteiristas de Hollywood. E isso só aumentou a expectativa. A estratégia, contudo, esconde outros cálculos. As bilheterias dos filmes do bruxinho vinham caindo paulatinamente até que, em 2007, se recuperaram surpreendentemente. Para os executivos da produtora, a reação aconteceu porque o longa-metragem foi lançado justamente em julho: dirigido pelo mesmo Yates, "Harry Potter e a Ordem da Fênix" somou US$ 937 milhões na bilheteria, quase esbarrando no recordista da série, o primeiro título, com US$ 968 milhões.A aposta na curva ascendente de lucros se faz notar na manutenção do mesmo diretor - ele já está filmando a primeira parte de "As Relíquias da Morte" e logo deve iniciar a segunda, tendo em vista que os atores estão biologicamente em rápido processo de crescimento. Embora Radcliffe mantenha-se com a mesma aparência franzina, Emma Watson, por exemplo, que interpreta Hermione, cada vez mais perde o ar angelical.
Na mesma velocidade da produção, aumentou-se o volume de investimentos. No espaço de dois anos, o custo da produção saltou de US$ 150 milhões para US$ 250 milhões, orçamento estimado do próximo episódio, previsto para estrear em 2010. A missão atual de Harry Potter é reunir os horcruxes de Voldemort, os sete objetos mágicos que garantem a imortalidade do Lorde das Trevas, e destruí-los um a um. Só assim ele vencerá o mal. Na batalha pela busca desses talismãs, um personagem querido da série vai morrer. Os fãs sabem quem ele é. Mas, com certeza, vão querer ver tudo isso na tela. Essa magia e a fortuna que gera explicam por que Harry Potter se recusa a se despedir.

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