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PÁTRIA
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
APARTAMENTOS DE SARNEY
Dois apartamentos que são usados pela família Sarney em São Paulo foram pagos por uma empreiteiraSão Paulo. Há três décadas, a família Sarney tem como endereço em São Paulo o edifício Solar de Vila América, no bairro Jardins. Até 2006, era um apartamento apenas. Hoje, além do apartamento número 82, comprado em 1979, a família tem à sua disposição outros dois. Os apartamentos 22 e 32 foram comprados há três anos. São usados pelos Sarney, mas estão registrados em nome de uma empreiteira, que cuidou da negociação e pagou os imóveis.A empreiteira é a Aracati Construções, Assessoria e Consultoria, cujo dono é o empresário Rogério Frota de Araújo, amigo dos filhos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). De acordo com os registros na Receita Federal, a Aracati — cuja razão social foi alterada para Holdenn Construções, Assessoria e Consultoria — tem hoje como principal nicho o setor elétrico, área do governo federal em que Sarney exerce influência. Há dois anos, a empresa começou a atuar em projetos de construção de usinas termoelétricas.Em um dos apartamentos, o 22, mora um neto do presidente do Senado, Gabriel José Cordeiro Sarney, filho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA). O outro apartamento, o 32, costuma abrigar assessores e convidados dos Sarney, mas também hospeda a família. Em junho passado, por exemplo, foi utilizado pelo próprio senador, em viagem para acompanhar a recuperação da filha, Roseana, operada para correção um aneurisma cerebral.O antigo dono do apartamento 22, o economista Felipe Jacques Gauer, de 46 anos, conta que, assim que decidiu vender o imóvel, após mudar de São Paulo para Porto Alegre, foi contatado por um neto de Sarney. Segundo Gauer, José Adriano, filho mais velho do deputado Zequinha, o procurou, por telefone. ‘‘Ele (José Adriano) disse que uma pessoa dessa empresa, a Aracati, iria me procurar para acertar a compra do apartamento’’, conta. Dias depois, Gauer foi procurado por Maria Rosane Frota Cabral, irmã e sócia de Rogério Frota na Aracati. ‘‘Percebi que, por alguma razão, não queriam que o sobrenome Sarney aparecesse na história’’, diz Gauer.Um apartamento no prédio vale, hoje, cerca de R$ 300 mil. A história da compra do outro apartamento, o de número 32, é semelhante. Deu-se dez meses depois. A venda foi feita pelo empresário Sidney Wajsbrot, 43 anos, dono de uma fábrica de plásticos em Guarulhos.Wajsbrot contou que, antes mesmo de pôr o apartamento publicamente à venda, foi procurado pelo zelador do prédio. ‘‘Ele me disse que o senador Sarney estava procurando um apartamento, que ele já tinha dois apartamentos no prédio e queria um terceiro, para um assessor dele’’, afirmou.A partir do contato do zelador, o próprio Rogério Frota apareceu para tratar do negócio. Na hora de fechar a compra, foi a irmã de Rogério Frota, Rosane, quem viajou de Brasília para São Paulo a fim de resolver. ‘‘Ela veio com o rapaz do cartório, trouxe um cheque nominal, da empresa, e assinamos a escritura’’, diz Wajsbrot. ‘‘Legalmente, o nome dele (Sarney) não aparece’’.InvestigaçãoEm 19 de julho do ano passado, agentes da Polícia Federal chegaram a montar vigilância na porta do prédio, em meio a investigações de empresas da família Sarney. Eles souberam que um funcionário dos Sarney saíra de Brasília rumo a São Paulo com uma mala e receberam ordem de interceptá-la. Ao perceber a presença de agentes federais na frente do prédio, o zelador passou a informar Fernando Sarney. Depois, ajudou o portador da mala a deixar o edifício, escondido no porta-malas de um carro dos Sarney. Mês passado, o zelador acabou demitido.FestasMoradores contam que o apartamento 22 é comumente utilizado para receber ‘‘gente de Brasília’’ e, nessas ocasiões, costumam ocorrer festas. Entre os funcionários do prédio, é conhecido o esforço para evitar que os apartamentos sejam relacionados aos Sarney e ao próprio Rogério Frota. Até dias atrás, a conta de TV a cabo de um dos apartamentos estava em nome do ex-zelador.Procurada pela imprensa, a assessoria de Sarney não respondeu perguntas sobre os apartamentos e a relação do presidente do Senado com o empresário dono da Aracati. O deputado Zequinha Sarney também foi procurado, mas pela assessoria informou que não daria entrevistas. O filho de Zequinha, José Adriano Cordeiro Sarney, também não quis dar declarações.
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