A senadora Marina Silva (AC) confirmou nesta quarta-feira (19) seu desligamento do Partido dos Trabalhadores (PT), legenda à qual é filiada há cerca de 30 anos. Marina Silva foi convidada pelo Partido Verde a se filiar à sigla, com a possibilidade de ser candidata à presidência da República em 2010. Entretanto, a senadora disse que somente agora começará as conversações com a direção do PV e este ainda não é o anúncio de sua filiação a outro partido.
"Não seria ético, não seria justo conversar com outros partidos antes de me desfiliar do PT. Agora vou estar em conversação com o PV, obviamente respeitando o calendário eleitoral", afirmou. Segundo a Justiça Eleitoral, para concorrer às próximas eleições as filiações partidárias devem ocorrer até o início de outubro.
"Foi uma decisão difícil"
Marina Silva comparou sua saída do PT a um episódio de sua vida quando, aos 16 anos, saiu de casa, no seringal Bagaço, com o objetivo de cuidar da saúde e estudar para realizar o sonho de ser freira. "Foi uma decisão difícil. Vocês não podem imaginar o que era para uma adolescente analfabeta ir para uma cidade que não conhecia", disse. "O fato de sair de casa não significa que estamos rompendo laços com aquelas pessoas com as quais convivemos há tanto tempo", completou ela, em referência aos colegas do PT.
A senadora informou ainda que enviou uma carta ao presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), comunicando sua decisão, mas afirmou que não conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos 15 dias, quando começou a articular sua saída da legenda. Sobre as negociações com o PV, Marina justificou: "Não se trata mais de ficar fazendo embate dentro do partido. Trata-se agora de fazer um encontro com todos aqueles que sonham com a luta socioambiental brasileira.
Campanha presidencial debaterá diversos temas
Marina Silva rebateu declarações feitas por políticos de vários partidos e até mesmo analistas de que sua campanha seria “monotemática” ao tratar prioritariamente de um novo modelo de crescimento para o país vinculando-o à preservação ambiental. Na opinião da senadora este é um raciocínio simplista que pode ser comparável à discussão, há 30 anos, de um modelo social como o que foi implantado no país.
“O Brasil, há 30 anos, talvez não estivesse preparado para ter um programa social como o que temos hoje. No contexto atual das crises econômica e ambiental não será preciso 30 anos para modificar o atual modelo [de desenvolvimento]."
Ela também criticou a iniciativa do Congresso de tentar alterar todo o Código Florestal em vigor. De acordo com a ex-ministra, o que os deputados e senadores fazem, neste momento, “é descartar todo um trabalho construídos pelos constituintes [em 1988]”. Ela citou, por exemplo, iniciativas de flexibilização dos crimes ambientais e mudanças das regras para a criação de unidades de conservação ambiental.
Marina Silva, por mais de uma vez durante a entrevista coletiva, destacou que o modelo de desenvolvimento autossustentável proposto não será efetivado por vontade exclusiva do Partido Verde. “A questão ambiental não se resume a um partido. Esse tem que ser um trabalho de todos os partidos e da sociedade.”
Confronto com Dilma Roussef
Ao deixar o PT, Marina Silva esclareceu dois pontos: não encerrará uma parceria construída com seus colegas de partido ao longo de 30 anos e tampouco incentivará correligionários a seguirem o mesmo caminho que resolveu adotar.
Ela também evitou qualquer confronto com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, eventual candidata do PT à sucessão do presidente Lula e com quem teve divergências administrativas quando ocupou a pasta do Meio Ambiente.
"Não me colocarei como vítima da ministra Dilma. Ela tem os pontos de vista dela e eu tenho os meus [sobre o modelo de crescimento econômico] e ambos são legítimos”, disse Marina Silva.
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