
Outro tema que povoou as declarações de alguns presidentes foi a tentativa de aprovar uma moção contra a imprensa. Neste e em outros assuntos, o que houve foi uma enorme perda de tempo. Será pior na próxima reunião. Até agora, a Unasul estava sendo presidida pela sensata Michelle Bachelet, do Chile. Na sua apresentação de contas, ela fez um balanço de reuniões na área de saúde para troca de informações sobre o combate à gripe H1N1. Esforços assim é que deveriam mobilizar os países.
Mas agora, com Rafael Correa na presidência rotativa, vamos ter mais espaço para os factóides chavistas.
Os governos da região deveriam estar se entendendo sobre como fortalecer as economias contra as crises globais, como aumentar o comércio regional, como criar um sistema de cooperação entre as forças de inteligência e segurança contra o narcotráfico, como proteger a Amazônia dentro do contexto das mudanças climáticas. Nada disso parece mobilizar os presidentes mais histriônicos do continente. Eles se reúnem para discutir a já bem conhecida relação militar entre Colômbia e Estados Unidos.
Os dois países disseram tratar-se apenas de mais do mesmo: não é segredo para ninguém que Colômbia e Estados Unidos têm um acordo militar que transfere bilhões de dólares anualmente para a Colômbia. O acordo passa pelo Congresso americano, portanto é público.
Quanto à suposta ameaça da imprensa aos governos, é o oposto: é uma ameaça à imprensa por parte tanto de Chávez quanto dos seus clones.
O presidente do Equador, Rafael Correa, também já disse que vai fechar emissoras de rádio e televisão. O truque de Chávez é conhecido.
Em vez de esperar para ser cobrado, ele vai para a ofensiva, escolhe um outro assunto e escala. Dessa forma, tira a pressão que deveria cair sobre ele, se esse fosse um encontro sério.
O risco real para uma região com a história de autoritarismos e caudilhos que tem a América do Sul é o próprio Chávez e a tecnologia de assalto às instituições democráticas que ele tem vendido.
O governo Lula, que tem alguns integrantes que enfrentaram os rigores da ditadura, não deveria tratar isso com a leveza com que trata. No mínimo, por uma questão de coerência. Não se pode ser democrata pela metade.
Felizmente, o Brasil fecha com os países mais sensatos, como o Chile, na hora de votar as propostas sempre estranhas de Chávez.
As manobras continuístas de alguns presidentes da região, entre eles Chávez e Uribe, são mais ameaçadoras, tendo em vista a história do continente, do que qualquer conflito entre Colômbia e Venezuela.
Até porque os dois países têm intensas e promissoras relações econômicas e comerciais. O comércio bilateral é de US$ 7,3 bilhões e poderia ser muito maior se o diálogo entre ambos fosse mais racional. A Venezuela compra quatro vezes mais do que exporta para a Colômbia: importa US$ 6 bilhões e exporta 1,3 bilhão. Depende do país vizinho para alimentos básicos como carne, vegetais, ovos. Numa matéria recente, a revista “Economist” deu destaque ao fato de que até gás natural é comprado.
Até por essa dependência de inúmeros produtos num país com crônico desabastecimento, Chávez ameaça, ameaça, mas não rompe relações.
Nos últimos vinte meses já chamou de volta três vezes o embaixador em Bogotá, para depois mandar de volta, como acaba de fazer.
A declaração de Chávez de que “ventos de guerra sopram na região” não poderia ser mais fantasiosa. A tentativa do Equador — que até recentemente tinha uma base americana em seu solo — da Bolívia e da Venezuela de aprovarem uma moção contra a Colômbia resultou em coisa nenhuma.
O problema da reunião é o fato de que os países fazem um esforço enorme, os líderes se deslocam, isso custa dinheiro e tempo, para um encontro em que nada de importante acontece, e os presidentes ficam prisioneiros da pauta fantasiosa inventada por Chávez.
O Brasil tem um comércio forte com os onze vizinhos da América do Sul. Somando-se as duas correntes do comércio são US$ 62 bilhões, quase metade disso com a Argentina.
Com o Chile, tem US$ 8,8 bilhões, mais do que os US$ 5,6 bilhões do comércio com a Venezuela. Deve continuar estreitando essas relações e fugindo dos exemplos populistas da região.
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