
Alheio às limitações do Orçamento federal, que sofreu corte de R$ 12 bilhões neste ano, o embaixador Carlos Augusto Santos-Neves quer investir R$ 77 milhões, cerca de 23 milhões de libras esterlinas, num prédio de 1,8 mil metros quadrados. De férias no Brasil, Santos-Neves disse a amigos que o negócio era bom porque o Brasil iria economizar com o aluguel no longo prazo. Além disso, estaria aproveitando a baixa nos preços dos imóveis em Londres. "Podemos negociar mais", justificou. O negócio depende da aprovação no Congresso, mas não encontrou resistência entre os parlamentares governistas.
Santos-Neves argumenta também que o negócio é necessário porque o proprietário do imóvel, o duque de Westminster, Gerald Cavendish Grosvenor, decidiu não renovar o contrato de aluguel de um dos dois prédios da embaixada. Como o contrato expira em 2011, os brasileiros ficariam desalojados em 2012. Para evitar o despejo, Santos-Neves contratou a consultoria Be&J para tentar negociar o aluguel ou procurar um novo endereço para os 13 diplomatas brasileiros que trabalham hoje no número 32 da Green Street. Não houve conversas com o duque, que não arreda o pé de retomar o imóvel. A Be&J, então, apresentou um leque de 16 edifícios que poderiam ser alugados por 100 anos - o que é bem comum em Londres - e dois no formato freehold, como os londrinos chamam a venda do imóvel, opção bem mais rara. O Itamaraty encheu os olhos para a oportunidade de comprar um edifício empresarial inteiro

"Ainda que essa compra compense, não me parece oportuno"Gil Castelo Branco, economista da ONG Contas Abertas
Em nota à ISTOÉ, a assessoria de imprensa do Itamaraty explica que a nova aquisição é necessária diante da "impossibilidade física de instalar a chancelaria apenas no imóvel restante". Alega também que o novo imóvel será avaliado "por três imobiliárias independentes, a fim de possibilitar a verificação do valor de mercado". Não está em discussão a lisura do negócio, mas sim a prioridade do gasto. "Ainda que um estudo mostre que a longínquo prazo essa compra compensa, não me parece oportuno", diz o economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas. "Qualquer cartilha de economista reza que agora é hora de investir no País, gerar emprego e movimentar a economia interna."
No Brasil real, a Secretaria de Educação de São Paulo gastou R$ 77 milhões para reformar 140 escolas estaduais. O mesmo valor que Santa Catarina recebeu para ações de vigilância sanitária depois das enchentes do ano passado. Representante do governo na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Maurício Rands (PT-PE) defende a nova sede. Ele diz que as relações bilaterais entre o Brasil e o Reino Unido ainda não estão suficientemente desenvolvidas. "Os R$ 77 milhões são migalhas diante do que está em jogo. O Brasil não é uma republiqueta. É um player." Se o Itamaraty está disposto a investir, melhor seria melhorar a qualidade dos serviços prestados aos brasileiros no Exterior. Ou, por exemplo, socorrer embaixadas em países com peso no comércio mundial, como a da China. Segundo queixas do embaixador em Pequim, Clo

Para recuperar seus lucros, o duque resolveu retomar o prédio de quatro andares e um subsolo onde funciona a embaixada do Brasil. Grosvenor pretende manter a fachada, reformar o interior e criar apartamentos residenciais. Assim, poderá arrendá-los por 100 anos, faturar mais e garantir a seus descendentes um lugar no topo dos milionários ingleses. "Alugando as unidades separadamente, ele vai lucrar mais", especula um diplomata da embaixada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário