Acidente no metrô de São Paulo, aliado às panes diárias e à superlotação, expõe as péssimas condições do transporte ferroviário do País
Paula Rocha e Michel AlecrimLOTAÇÃO
Plataforma de embarque do metrô paulistano em horário
de pico: muitos passageiros para poucos trens
O Brasil assistiu perplexo, na quarta-feira 16, a cenas de confusão e desespero no metrô de São Paulo. Por volta das 10 horas, um trem lotado de passageiros colidiu com outra composição parada nos trilhos da linha 3 – Vermelha, a mais movimentada da cidade. Com o impacto, pessoas rolaram e caíram no chão, e ao menos 49 se feriram. Além da inesperada colisão, os passageiros ainda tiveram de lidar com a falta de informações por parte da administração do metrô. O episódio, que isolado seria apenas uma lamentável ocorrência, passa a integrar a vertiginosa estatística de panes e falhas no sistema de transporte sobre trilhos no País. Somente na capital paulista foi registrada, em média, mais de uma falha por semana no metrô, nos primeiros meses de 2012, segundo dados oficiais. Na cidade do Rio de Janeiro, o problema se repete. Só em 2011 foram ao menos 84 incidentes, somando trens e metrô (leia quadro na pág. 84). Diante de tantos transtornos, os brasileiros se perguntam: até quando teremos de contar com uma malha ferroviária insuficiente e ultrapassada?
CHOQUE
A colisão entre dois trens deixou ao menos 49 pessoas feridas na
linha 3 – Vermelha do metrô de São Paulo: falha no sistema
Intervalos demorados, vagões super lotados e falta de mais estações são velhos conhecidos de quem depende do transporte público sobre trilhos no País. Nos últimos anos, porém, a frequência de ocorrências que atrasam e atrapalham a vida dos cidadãos tem aumentado no embalo do crescimento do número de usuários. Em março, o sistema de trens de passageiros da região metropolitana de São Paulo atingiu seu recorde: 7,1 milhões de pessoas transportadas por dia. O crescimento da demanda, no entanto, não se reverteu em maiores investimentos. De acordo com dados do Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária (Sigeo) do Estado de São Paulo, o orçamento para o metrô paulista sofreu uma redução de 20% entre 2010 e 2011, passando de R$ 637 milhões para R$ 512 milhões. O mesmo ocorreu com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que registrou as maiores reduções nas linhas 9 – Esmeralda e 7 – Rubi, justamente onde ocorreram frequentes panes elétricas. Em sua defesa, a CPTM alegou que não houve redução do orçamento, mas uma “contenção de investimentos até que os recursos da arrecadação entrassem em caixa”.
No Rio de Janeiro, passageiros também são obrigados a enfrentar uma rotina de caos. A superlotação é o maior problema daqueles que saem do subúrbio da capital ou de municípios da região metropolitana em direção, principalmente, ao centro ou à zona sul cariocas. Por conta da falta de investimentos nas últimas décadas, que fez com que a frota tenha mudado muito pouco, também são constantes as falhas técnicas. Para completar o quadro, os passageiros ainda são maltratados. Na estação de trem de Madureira, na zona norte, em 2009, passageiros foram espancados por seguranças da empresa Supervia. Como o número de usuários nas composições era tão grande que impedia o fechamento das portas, os funcionários partiram para a brutalidade. Imagens de agentes “chicoteando” usuários com cordões chocaram o País na época.
Sobre o acidente da quarta-feira 16, o presidente do metrô de São Paulo, Peter Walker, declarou que a colisão foi resultado de uma falha no sistema de controle eletrônico dos trens. “O operador disse que recebeu a mensagem ‘linha livre, continue’, então continuou”, disse Walker. Já para o presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, o incidente prova que o sistema ferroviário precisa passar por uma revisão. “O sucateamento do sistema é o responsável por esse acidente e por vários outros”, afirmou. “É preciso contratar mais funcionários, modernizar os equipamentos e aumentar a malha.” A entidade ainda declarou que fará greve na quarta-feira 24, por reajuste salarial, a exemplo da paralisação que afetou milhares de pessoas nas cidades de Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Maceió (AL), João Pessoa (PB) e Natal (RN), na semana passada. Para o engenheiro Telmo Porto, professor da Escola Politécnica (Poli) da USP (Universidade de São Paulo), a solução para o transporte sobre trilhos no Brasil é uma só: construir mais quilômetros de linhas. “Fórmula mágica não existe. Mas pelo menos uma coisa é reconfortante: pior do que está não fica”, diz Porto. Mais do que isso, os brasileiros esperam que melhore.
Sobre o acidente da quarta-feira 16, o presidente do metrô de São Paulo, Peter Walker, declarou que a colisão foi resultado de uma falha no sistema de controle eletrônico dos trens. “O operador disse que recebeu a mensagem ‘linha livre, continue’, então continuou”, disse Walker. Já para o presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, o incidente prova que o sistema ferroviário precisa passar por uma revisão. “O sucateamento do sistema é o responsável por esse acidente e por vários outros”, afirmou. “É preciso contratar mais funcionários, modernizar os equipamentos e aumentar a malha.” A entidade ainda declarou que fará greve na quarta-feira 24, por reajuste salarial, a exemplo da paralisação que afetou milhares de pessoas nas cidades de Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Maceió (AL), João Pessoa (PB) e Natal (RN), na semana passada. Para o engenheiro Telmo Porto, professor da Escola Politécnica (Poli) da USP (Universidade de São Paulo), a solução para o transporte sobre trilhos no Brasil é uma só: construir mais quilômetros de linhas. “Fórmula mágica não existe. Mas pelo menos uma coisa é reconfortante: pior do que está não fica”, diz Porto. Mais do que isso, os brasileiros esperam que melhore.
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