As usinas nucleares eram responsáveis por 30% da demanda energética no país
Foto divulgada pela Tepco, operadora japonesa da usina de
Fukushima, mostra o momento em que o tsunami invade a usina nuclear no
nordeste do Japão
(Tepco/EFE)
A paralisação do último reator nuclear ativo no Japão após a crise em
Fukushima deixará neste sábado a terceira maior economia do mundo, pela
primeira vez em 42 anos, sem centrais atômicas e diante do desafio de
enfrentar o cálido verão com outras fontes de energia.Desde que a pioneira central de Tokai, ao noroeste de Tóquio, iniciou sua atividade comercial, em 25 de julho de 1966, só uma vez o Japão se encontrou na situação de não contar com nenhum reator ativo, de 30 de abril a 4 de maio de 1970.
Naquela ocasião, os dois únicos reatores existentes foram paralisados por uma revisão de rotina que durou apenas cinco dias, enquanto no atual momento se desconhece quando o país irá recuperar sua produção de energia atômica.
A operadora da central de Tomari (norte), a Hokkaido Electric Power, interromperá as atividades do último reator ativo no Japão às 23h locais (11h de Brasília), em processo que pode ser concluído em cerca de três horas.
A revisão da unidade de Tomari deverá levar 71 dias, e depois disso precisará ser submetida aos testes de resistência exigidos pelo Governo perante catástrofes similares às de 11 de março de 2011, quando um tsunami arrasou o nordeste do país.
Coincidindo com o fechamento do reator na ilha de Hokkaido, diversos grupos antinucleares se manifestaram no centro de Tóquio para celebrar o blecaute e expressar, como em algumas ocasiões anteriores, sua rejeição a este tipo de energia.
Desde que o tsunami provocou a pior crise nuclear no mundo em 26 anos, nenhum dos reatores do arquipélago paralisados por segurança ou para revisão puderam ser reativados.
Para poder garantir a demanda elétrica das grandes cidades do país, como Tóquio, cuja região metropolitana conta com mais de 30 milhões de habitantes, as operadoras potencializaram o uso das centrais térmicas, o que intensifica a despesa com a importação de petróleo e gás liquefeito.
O aumento das importações, sobretudo pela compra de hidrocarbonetos, afeta duramente a balança comercial japonesa, que em janeiro de 2012 registrou seu maior déficit nos últimos 33 anos e ameaça desestabilizar a economia do país, dependente em cerca de 40% de suas exportações.
No entanto, segundo as estimativas do Governo, será necessário reabrir alguns dos reatores paralisados para poder garantir a provisão elétrica estável nas principais cidades do arquipélago, que antes da tragédia obtinha cerca de 30% da energia nuclear.
Neste sentido, o Gabinete do primeiro-ministro, Yoshihiko Noda, defendido por ministros como o da Indústria, Yukio Edano, luta para obter o respaldo necessário para reabrir os reatores nucleares da central de Oi, na província de Fukui (centro), os primeiros a superar os testes de resistência que credenciam, em teoria, sua segurança.
O Japão enfrentará 'severos cortes elétricos' se não forem reabertas as unidades de Oi, assegurou há algumas semanas Edano, estimando que sua reativação poderia acrescentar até 2,36 milhões de quilowatts extras à região, o que reduziria as chances de cortes elétricos na zona durante este verão.
Apesar dos esforços do Gabinete japonês para demonstrar a segurança das usinas que superaram os testes, as regiões e localidades próximas à central de Oi se opõem à reativação da central e, em casos como o de Osaka, a terceira maior cidade do país, houve pressão por seu fechamento definitivo.
Isto intensificou o debate sobre a segurança e a idoneidade deste tipo de energia no Japão, após uma crise nuclear que forçou a retirada de 80 mil pessoas, deixando cidades abandonadas nas imediações da central, desolação e perdas milionárias.
As operadoras remeteram até agora à Agência de Segurança Nuclear 19 resultados positivos de testes de resistência feitos em seus reatores para tentar dar um primeiro passo rumo ao sinal verde para o reinício de sua atividade.
Ainda assim, ao menos por enquanto o Japão terá de enfrentar o desafio de seguir adiante sem a energia nuclear.
(com Agência EFE)
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