ISTOÉ teve acesso às obras de Angra 3 e revela os segredos que podem fazer dela uma das usinas mais seguras do mundo
Michel AlecrimPROTEÇÃO
Um quebra-mar protege o terreno contra ondas de até 4,5 metros de altura e a
estrutura foi projetada para suportar um terremoto de até 7,5 graus na escala Richter
O terceiro reator da central instalada em Angra será totalmente controlado com equipamentos digitais e terá condições de se manter funcionando, mesmo se uma catástrofe parecida com a de Fukushima – terremoto seguido de tsunami – ocorrer no Brasil. Em qualquer processo industrial, 60% das falhas têm como motivo fatores humanos. Com a tecnologia digital, a operação fica mais independente e mais segura, diz o pesquisador Aquilino Senra, vice-diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ. Senra ressalta que o Brasil não está sujeito a tragédias naturais como as ocorridas no Japão, mas aprendeu com a tragédia do país asiático. O prédio principal é o que vai abrigar o reator. É a estrutura mais protegida do complexo, por ser o local onde o combustível nuclear ficará armazenado e onde ocorrerá a fissão que gera energia. A proximidade de Angra 3 com o mar requer cuidados especiais para que nem o movimento das marés nem qualquer onda cause acidente. Por isso, um quebra-mar protege o terreno contra ondas de até 4,5 metros de altura. A estrutura também foi projetada para suportar um terremoto de até 7,5 graus na escala Richter. Neste caso, no entanto, a hipótese é mais do que remota, pois não há registro desses fenômenos no País.
Outra inovação na usina está sendo avaliada junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Tendo em vista o colapso no fornecimento de energia em Fukushima, que causou o superaquecimento do reator, estuda-se a introdução de um sistema móvel em Angra 3, que seria acrescido aos já projetados. Numa hipótese remota de um maremoto que danificasse todos os sistemas de emergência, geradores a diesel externos entrariam em ação. “Os sistemas de refrigeração do núcleo do reator em Fukushima e em Angra são diferentes. Mas aquele acidente nos obrigou a fazer uma extrapolação nas avaliações de risco”, afirma Alexandre Gromann, coordenador-geral de Reatores Nucleares da Cnen.
DIGITAL
O reator de Angra 3 será controlado com equipamentos digitais
e terá condições de funcionar, mesmo em caso de catástrofe
O superintendente da construção Eletronuclear, José Eduardo Costa Mattos, é o principal responsável por conciliar todas as exigências de segurança com o rigoroso cronograma. Segundo ele, a estrutura do prédio anexo da turbina, onde a energia efetivamente é gerada, está quase pronta, com 35% das obras civis realizadas. “Por conta de uma greve de operários no início do ano, teremos que fazer um ajuste no cronograma, mas o prazo final não será alterado”, afirma o engenheiro, que participou da construção das duas usinas anteriores.
A questão que ainda não está resolvida no projeto é seu licenciamento ambiental. O Ibama concedeu a licença de instalação em 2009, o que permitiu o início das obras. No entanto, uma série de condicionantes teriam que ser cumpridas até a licença definitiva. Uma delas é a construção por parte da Eletronuclear de uma rodovia entre Paraty (RJ) e Cunha (SP). A pavimentação da estrada é necessária para criar uma nova rota de fuga, em caso de acidente nuclear. A obra, estimada em R$ 66 milhões, ainda depende de finalização de estudo do próprio Ibama. Os responsáveis pela obra, no entanto, estão otimistas. Estão convencidos de que a parte burocrática não irá atrapalhar o início do funcionamento da usina pós-Fukushima tida como uma das mais seguras do mundo.
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